sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Um Passeio em Loulé

Hoje, quem passeia no centro da cidade de Loulé terá como maior preocupação evitar os buracos, a terra enlameada e mais um ou outro desconforto causado pelas obras que implicaram o levantamento do pavimento. De certo que muitos se queixam do transtorno causado pelas obras, pedestres citadinos, lojistas e até visitantes, mas nenhuma obra é boa ou má só por ser obra. O nosso voto é de que o impacto desta seja o mais positivo possível.
Um passeio por Loulé levantou-nos, no entanto, outras preocupações.
Não sabemos se apenas agravado pelas obras em curso, o trânsito em Loulé é caótico. Sair ou entrar da cidade em hora de ponta já é equivalente, se não mais complicado, à deslocação na área dos arrabaldes da «grande Lisboa». Mais do que nunca completar a obra da circular parece impreterível.
A agravar a situação acresce ainda a tão característica ausência de um plano de transportes integrado e funcional de transportes públicos, que opere eficazmente aos olhos do cidadão comum.
Em Loulé, projectam-se e fazem-se muitas obras, num impulso de aparente procura de «inovação» que nem sempre tem resultado. O Largo de S. Francisco, objecto de obras em tempos recentes, encontra-se actualmente num estado decadente que se topa num relance. Ponto de encontro geracional, este encontra-se totalmente descaracterizado, pelo péssimo gosto arquitectónico de quem o concebeu como o conhecemos agora e pela tradicional falta de senso de quem constrói, mas não cuida. As laterais à passadeira de madeira (degradada), suposto lago ou repuxo transformado em pântano de lixo, gritam por atenção autárquica. Note-se que a reabilitação urbana deve passar por outro tipo de projectos, como um de «habitação jovem» na zona histórica.
A construção de prédios urbanos em Loulé não tem sido acompanhada por um esforço equivalente na criação de zonas verdes de descontracção e lazer. De resto, o até então «pulmão da cidade», a mata é agora objecto de um projecto de reabilitação, que apesar do efectivo esforço elimina grande parte do espaço verde.
O problema de descaracterização da cidade vai para além das obras e serviços adstritos à Câmara.
Uma das tradicionais características da Cidade, o comércio encontra-se em morta lenta e penosa. O comércio tradicional não se inova, não se reabilita e à tentativa de trespasse ou de venda segue-se a loja chinesa que obtém o retorno que o lojista tradicional tanto se queixava de não obter. O comércio ligado às profissões tradicionais, ao artesanato desapareceu.
Um passeio em Loulé, não pode deixar de relembrar que Loulé é muito mais que o centro da cidade, o concelho faz-se de muitas freguesias que também requerem atenção.
Quarteira uma das mais populosas não deve ser afecta apenas a obras para «turista ver». Projecto que gostaríamos de ver lançado era o de serviços de biblioteca municipais integrados. Uma Biblioteca Municipal de Loulé com vários pólos a começar por um pólo em Quarteira que tanto carece e um outro na zona interior do concelho, a escolher criteriosamente. Uma biblioteca de fundos compartilhados. O projecto não é inovador e não é exclusivo das grandes cidades, apontamos pelo seu sucesso o serviço de biblioteca de Oeiras, cujo modelo poderia ser adoptado.

Muitas outras reflexões se levantam com um simples passeio por Loulé, deixemo-las para uma próxima vez.

1 comentário:

Anónimo disse...

Isabel; está agora o teu magnífico texto a ser divulgado pelo "sebastiao" e, por via dele, também no "macloulé"... Veremos se este teu Passeio irá ajudar a "fazer luz" nas cabeças dos governantes locais,
Parabéns por teres os olhos abertos e dares o teu sincero testemunho aos teus patrícios!